A supremacia da Esquerda é tal que quase ninguém fala sobre as origens socialistas do fascismo

Daniel Hannan

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O constrangimento está no nome. Lê-se no panfleto: “Nacional-Socialismo: a vontade organizada da Nação”.

“Sou um socialista”, disse Hitler a Otto Strasser em 1930, “mas um tipo de socialista bem diferente do seu amigo rico, o Conde Reventlow”.

Ninguém naquele tempo comentaria que a afirmação acima é controversa. Os nazistas dificilmente seriam mais claros sobre o seu socialismo do que se descreverem com a mesma terminologia que usamos no nosso SWP1: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Quase todo mundo aceitava, naquele tempo, que o fascismo tinha emergido da Esquerda revolucionária. Os seus militantes marchavam nas Festas de Maio sob bandeiras vermelhas. Os seus líderes sinalizavam na direção de coletivismo, controle estatal da indústria, altas tarifas, conselhos de trabalhadores. Na Europa toda, fascistas estavam convencidos de que, como dito por Hitler a um entusiasmado Mussolini, em 1934, “o capitalismo havia chegado ao fim da linha”.

Um dos feitos mais extraordinários da Esquerda contemporânea é a criação de um ambiente cultural onde mencionar esses fatos é, simplesmente, algo chocante. A História foi reinterpretada, e toma-se como axiomático que fascismo deve ser considerado de Direita, sendo a lógica aparente de que a Esquerda significa compaixão e a Direita significa sordidez e fascistas são sórdidos. Você espera esse tipo de análise da galera do Twitter; não deve esperá-lo dos comentaristas do mainstream.

Quando foi a última vez que você ouviu uma referência ao BNP2 na BBC sem o epíteto ‘extrema-direita’? A terminologia é deliberadamente tendenciosa. Não faz com que pensem um pouco menos do BNP; mas faz com que pensem menos do mainstream da Direita, porque implica que o manifesto do BNP é de alguma forma um tipo de conservadorismo mais intenso.

Manter essa crença, contudo, depende de você fechar os seus olhos para o grosso do que o BNP representa.

Como o New Statesman o coloca:

Numa breve passada de olhos pelos escritos do manifesto do BNP revelam-se propostas que apontam para o seguinte: grandes aumentos nas pensões estatais; mais dinheiro para o NHS3; aprimoramento da proteção ao trabalhador; estatização de indústrias chaves. Sob Griffin, a extrema-direita dos dias modernos tem se posicionado a esquerda do Partido Trabalhista4.

Realmente. O etno-nacionalismo do partido é simplesmente mais uma forma de protecionismo. Assim como não é favorável a livre circulação de mercadorias, não é favorável a livre circulação de pessoas. Não é de se admirar que recentemente o BNP tenha se propagandeado como ‘O Partido Trabalhista no qual os seus pais votavam’.

Eu estou querendo dizer que o BNP é simplesmente um outro tipo de Partido Trabalhista? Não. Isso seria repetir o erro do sujeito do Twitter, só que ao contrário. Há obviamente diferenças imensas entre o que Nick Griffin representa e o que Ed Miliband representa. Sim, o BNP tem algumas políticas em comum com o Partido Trabalhista, assim como tem algumas políticas em comum com o Partido Verde, com os Liberais-Democratas e com os Conservadores. Coincidência de políticas não estabelece consanguinidade de doutrina.

Eu apenas espero que os Esquerdistas que leram até aqui saibam como os conservadores se sentem quando descrevem o fascismo como se fosse simplesmente um ponto no extremo do espectro político que se moveu a partir do conservadorismo. Sempre que alguém aponta as origens socialistas do fascismo, ouve-se uma gritaria de indignação. Curiosamente, os que gritam mais alto são frequentemente os primeiros a afirmar a existência de alguma ligação ideológica entre o fascismo e o conservadorismo. Talvez ambas as partes devessem se dar uma trégua.

Notas de rodapé

    1. Sigla de Socialist Workers Party (Partido Socialista dos Trabalhadores).
    2. Sigla de British National Party (Partido Nacional Britânico).
    3. Sigla de National Health Service (Serviço Nacional de Saúde).
    4. Labour Party (Partido Trabalhista).

Original em inglês disponível no endereço:
http://blogs.telegraph.co.uk/news/danielhannan/100203076/so-total-is-the-lefts-cultural-ascendancy-that-we-dare-not-mention-the-socialist-roots-of-fascism/ [link quebrado]

P.S. O original ainda pode ser encontrado na web no endereço: http://archive.vn/4l7xj


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The Pageant of World History vs. Wikipédia: O caso de Mussolini

Bryan Caplan

Quando eu estava na sexta série uma cópia de 1967 do livro The Pageant of World History de Gerald Leinwand chegou às minhas mãos. Ainda que tenha aprendido muito com ele, o livro contém omissões estarrecedoras. Eis aqui o que Leinwand diz sobre os primeiros anos de Mussolini:

Mussolini, a uma certa altura, fora socialista e, sendo um jornalista, escreveu artigos favoráveis a derrubada do capitalismo.

Tudo verdadeiro, mas bastante enganador! Leinwand dá a entender que Mussolini era um simplório jornalista e um reles membro do partido socialista. Fiquei sem conhecer a verdadeira estória por décadas até que descobri as obras de A. James Gregor, especialmente o seu livro Young Mussolini and the Intellectual Origins of Fascism. Felizmente, para os alunos da sexta-série dos dias hoje, a Wikipédia traz os fatos omitidos por Leinwand. Mussolini não era um socialista qualquer; ele era o Lenin da Itália — o líder da facção revolucionária radical. E Mussolini não era um mero “jornalista”; ele era o editor do Avanti!, o jornal oficial do Partido Socialista. Por volta de 1910, ele…

…era considerado um dos mais proeminentes socialistas da Itália. Em setembro de 1911, Mussolini participou de um motim, liderado pelos socialistas, contra a guerra italiana na Líbia. Ele denunciava, com amargor, a “guerra imperialista” da Itália para capturar a cidade de Trípoli, capital da Líbia, uma ação que lhe custou cinco meses de prisão. Após sua soltura, ajudou a expulsar das fileiras do partido socialista dois “revisionistas” que tinham apoiado a guerra, Ivanoe Bonomi e Leonida Bissolati. Como resultado, foi premiado com a editoria do jornal Avanti! do partido socialista. Sob o seu comando, a circulação do jornal logo passou de 20.000 para 100.000 exemplares.

O artigo da Wikipédia (anglófona) sobre o Italian Socialist Party (Partido Socialista Italiano) tem mais detalhes sobre o expurgo dos “revisionistas” promovido por Mussolini:

No princípio do século 20, contudo, o PSI optou por não se opor vigorosamente ao governo liderado pelo cinco-vezes Primeiro Ministro Giovanni Giolitti. Esta conciliação com o governo existente e o seu ganho eleitoral contribuíram para tornar o PSI um partido político italiano do mainstream, na década de 1910.

A despeito das melhorias nos resultados eleitorais do partido, o PSI permaneceu, mesmo assim, um partido dividido em duas correntes principais: os Reformistas e os Maximalistas. Os Reformistas, liderados por Filippo Turati, eram mais fortes principalmente nos sindicatos e nos círculos parlamentares. Os Maximalistas, liderados por Costantino Lazzari, eram afiliados ao Bureau de Londres, uma associação internacional de partidos socialistas.

Em 1912, os Maximalistas liderados por Benito Mussolini prevaleceram na convenção do partido, o que levou a cisão do partido e a formação do Partido Socialista Reformador Italiano.

Para os socialistas, é claro, a apostasia de Mussolini não prova nada, exceto a sua suprema vilania. Para todos os outros, contudo, a história das origens de Mussolini coloca toda a sua carreira ulterior sob uma nova luz. Quem vê as coisas de fora observa facilmente o que os de dentro negam: a fruta apóstata raramente cai longe da árvore ortodoxa.

Sim, Mussolini percebeu que o socialismo e o nacionalismo combinados tinham mais apelo às massas do que o socialismo isoladamente. Sim, Mussolini percebeu que o socialismo seria mais forte se o aliasse com a Igreja ao invés de destruí-la. Sim, Mussolini percebeu que a completa e massiva expropriação da propriedade privada destruiria a economia. E sim, Mussolini percebeu que a palavra “socialismo” alienaria milhões de italianos que, de outra forma, se mostrariam receptivos à sua mensagem. Mas isto não faz de Mussolini um socialista radical que traiu tudo aquilo em que acreditava, mas sim um socialista radical que se livrou de alguns dogmas socialistas periféricos que o separavam do poder absoluto. Se tivesse mantido a etiqueta socialista e evitado a aliança com Hitler, talvez Mussolini fosse hoje um ícone da esquerda tão grande como Che Guevara.


Original em inglês disponível no endereço: http://econlog.econlib.org/archives/2012/06/the_whitewash_o.html


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Fascismo

Sheldon Richman

Enquanto sistema econômico, o fascismo é socialismo com um verniz capitalista. A palavra deriva de fasces, o símbolo romano do coletivismo e do poder: um feixe de varas amarradas junto a um machado sobressalente. Nos seus dias (as décadas de 1920 e 1930), o fascismo era visto como um meio-termo entre o capitalismo liberal propenso a altos-e-baixos, com o seu alegado conflito de classes, a sua competição degradante, e o seu egoísmo voltado ao lucro, e o marxismo revolucionário, com a sua perseguição violenta, e socialmente desagregadora, a burguesia. O fascismo substituiu a peculiaridade “sangue e solo” do nacionalismo e do radicalismo pelo internacionalismo comum ao liberalismo clássico e ao marxismo.

Onde o socialismo buscava o controle totalitário dos processos econômicos da sociedade, através da operação direta dos meios de produção, pelo Estado, o fascismo buscava esse controle indiretamente, subjugando os detentores da titularidade nominal da propriedade privada. Onde o socialismo nacionalizava a propriedade explicitamente, o fascismo o fazia implicitamente, ao exigir que os proprietários usassem a sua propriedade de acordo com o “interesse nacional” – ou seja, como concebido pela autoridade autocrática. (O Estado, no entanto, operava algumas indústrias.) Onde o socialismo abolia todas as relações de mercado abertamente, o fascismo mantinha a aparência de relações de mercado ainda que planejasse todas as atividades econômicas. Onde o socialismo abolia a moeda e os preços, o fascismo controlava o sistema monetário e especificava todos os preços e salários politicamente. E fazendo isso tudo, o fascismo desfigurava o mercado. O empreendedorismo fora abolido. Eram os ministérios estatais, e não os consumidores, que determinavam o que devia ser produzido e sob quais condições.

O fascismo deve ser distinguido do intervencionismo, ou da economia mista. O intervencionismo procura guiar o processo de mercado, não eliminá-lo, como fez o fascismo. Salário mínimo e leis antitruste, ainda que regulem o livre mercado, estão a léguas e léguas de distância dos planos plurianuais do Ministério da Economia.

Sob o fascismo, o Estado, através de cartéis oficiais, controlava todos os aspectos da manufatura, do comércio, das finanças, e da agricultura. Comitês de planejamento definiam as linhas de produtos, os níveis de produção, preços, salários, condições de trabalho, e o tamanho das firmas. Licenciamentos eram onipresentes; nenhuma atividade econômica podia ser realizada sem a permissão do governo. Os níveis de consumo eram ditados pelo Estado, e os rendimentos “excedentes” tinham de ser renunciados na forma de impostos ou “empréstimos”. A consequente oneração dos fabricantes dava vantagens às firmas estrangeiras que pretendiam exportar. Mas, como a política governamental visava a autarquia, ou autossuficiência nacional, o protecionismo se fazia necessário: importações eram barradas ou rigorosamente controladas, permitindo-se o êxito estrangeiro apenas quando fosse o único corredor de acesso àqueles recursos indisponíveis domesticamente. O fascismo era, portanto, incompatível com a paz e a divisão internacional do trabalho – marcos do liberalismo.

O fascismo caracterizava-se pelo corporativismo, no qual a representação política era baseada no comércio e na indústria, e não na geografia. Nisto, o fascismo revelava as suas raízes no sindicalismo, um modelo de socialismo oriundo da esquerda. O governo cartelizava firmas do mesmo ramo industrial, com representantes dos trabalhadores e das gerências servindo nas miríades locais, regionais e comitês nacionais – sujeitos sempre a palavra final do plano econômico do ditador. O corporativismo tinha por finalidade prevenir sublevações desestabilizadoras dentro da nação, tais como locautes e greves. A perda da capacidade de barganhar e de mover-se livremente era o preço de tal “harmonia” forçada.

Para manter o nível de emprego alto e minimizar o descontentamento popular, o governo fascista ocupava-se também de financiar maciçamente projetos de obras públicas, por meio de impostos exorbitantes, endividamento e emissão monetária. Embora muitos desses projetos fossem internos – estradas, edificações, estádios – o maior de todos os projetos era o militarismo, com exércitos poderosos e produção em massa de armas.

O antagonismo dos líderes fascistas ao comunismo tem sido erroneamente interpretado como uma inclinação pelo capitalismo. Na verdade, o anticomunismo dos fascistas era motivado pela crença de que entre os coletivistas da Europa do início do século XX, o comunismo era o seu maior rival na batalha por seguidores. Como no comunismo, sob o fascismo todo cidadão era tido como um empregado fiduciário do Estado totalitário, dominado pelo partido. Consequentemente, era prerrogativa do Estado o uso da força, ou a ameaça de fazê-lo, até mesmo para reprimir a oposição pacífica.

Se um arquiteto formal do fascismo pode ser identificado, ele é Benito Mussolini, o outrora editor marxista que, ascendendo embalado no fervor nacionalista, rompeu com a esquerda, na medida em que a Primeira Guerra Mundial se aproximava, e tornou-se líder da Itália em 1922. Mussolini distinguiu o fascismo do capitalismo liberal na sua autobiografia de 1928:

Os cidadãos no Estado fascista não são mais indivíduos egoístas que têm o direito antissocial de rebelar-se contra qualquer lei da Coletividade. O Estado fascista com a sua concepção corporativa põe os homens bem como as suas possibilidades dentro do trabalho produtivo e interpreta para eles os deveres que devem cumprir. (p. 280)

Antes de enveredar-se pelo imperialismo em 1935, Mussolini foi frequentemente elogiado por americanos e britânicos proeminentes, incluindo Winston Churchill, pelo seu programa econômico.

Da mesma forma, Adolf Hitler, cujo Partido Nacional-Socialista (Nazista) adaptou o fascismo à Alemanha, iniciando em 1933, disse:

O Estado deve reter a supervisão e cada proprietário deve se considerar nomeado pelo Estado. É seu dever não usar sua propriedade contrariamente aos interesses dos outros entre o seu próprio povo. Eis a questão crucial. O Terceiro Reich há sempre de manter o seu direito de controlar os detentores de propriedade. (Barkai 1990, pp. 26-27)

Ambos os países exibiam elaborados esquemas de planejamento para as suas economias, a fim de realizar os objetivos do Estado. O Estado corporativo de Mussolini “considerava a iniciativa privada no setor produtivo o mais efetivo instrumento para proteger os interesses nacionais” (Basch 1937, p. 97). Mas o significado de “iniciativa” diferia significativamente do seu significado nas economias de mercado. Os trabalhadores e os gerentes eram organizados em vinte e duas “corporações” industriais e comerciais, cada uma com membros do Partido Fascista na qualidade de participantes sêniores. As corporações eram consolidadas em um Conselho Nacional das Corporações; todavia, as decisões reais eram tomadas pelas agências estatais tais como o Instituto para a Reconstrução Industrial, que detinha participações em empresas industriais, agrárias e imobiliárias, e o Instituto Mobiliário, que controlava o crédito nacional.

O regime de Hitler eliminou as pequenas companhias e tornou a filiação a cartéis obrigatória.1 A Câmara Econômica do Reich estava no topo de uma complicada burocracia, abrangendo aproximadamente duas centenas de organizações, organizadas conjuntamente nos segmentos da indústria, comércio e ofícios, bem como em diversos conselhos nacionais. A Frente Trabalhista, uma extensão do Partido Nazista, lidava com todos os assuntos trabalhistas, incluindo salários e alocação de trabalhadores para serviços específicos. O recrutamento de trabalhadores foi inaugurado em 1938. Dois anos antes, Hitler tinha imposto um plano de quatro anos no sentido de adequar a economia nacional para o cenário de guerra. Na Europa dessa época, Espanha, Portugal e Grécia também instituíram economias fascistas.

Nos Estados Unidos, a partir de 1933, a constelação de intervenções governamentais conhecida como the New Deal (português: “o Novo Acordo” ou “o Novo Trato”) apresentava características típicas de Estado corporativo. A Lei de Recuperação da Indústria Nacional (inglês: National Industrial Recovery Act) criava autarquias públicas (inglês: code authorities) e códigos de boas práticas que governavam todos os aspectos da manufatura e do comércio. A Lei Nacional de Relações Trabalhistas (inglês: National Labor Relations Act) tornou o governo federal o árbitro final nas questões trabalhistas. A Lei do Ajuste Agrícola (inglês: Agricultural Adjustment Act) introduziu o planejamento central na atividade agrícola. O objetivo era reduzir a concorrência e a produção de modo a segurar os preços e manter os rendimentos de certos grupos ameaçados de falência devido a Grande Depressão.

É tema de controvérsias se o New Deal do presidente Franklin Roosevelt foi ou não diretamente influenciado pelas políticas econômicas fascistas. Mussolini elogiou o New Deal como “audaciosamente (…) intervencionista no campo da economia”, e Roosevelt felicitou Mussolini pelo seu “objetivo honesto de reerguer a Itália” e reconheceu ter mantido “contato razoavelmente próximo com aquele admirável cavalheiro italiano”. Além disso, é sabido que Hugh Johnson, chefe da Administração da Recuperação Nacional (inglês: National Recovery Administration), carregava consigo uma cópia do livro de Raffaello Viglione, pró-Mussolini, The Corporate State (português: O Estado Corporativo), e presenteara com uma cópia o Secretário do Trabalho, Frances Perkins, mostrando-se, ao sair da vida pública, tributário do ditador italiano.

Sobre o autor

Sheldon Richman é o editor de The Freeman: Ideas on Liberty da Foundation For Economic Education em Irvingtonon-Hudson, N.Y.

Leitura adicional

Barkai, Avraham. Nazi Economics: Ideology, Theory, and Policy. Trans. Ruth Hadass-Vashitz. Oxford: Berg Publishers Ltd., 1990.

Basch, Ernst. The Fascist: His State and His Mind. New York: Morrow, 1937.

Diggins, John P. Mussolini and Fascism: The View from America.Princeton: Princeton University Press, 1972.

Flynn, John T. As We Go Marching. 1944. Reprint. New York: Free Life Editions, 1973.

Flynn, John T. The Roosevelt Myth. New York: Devin-Adair, 1948.

Laqueur, Walter, ed. Fascism: A Reader’s Guide. Berkeley: University of California Press, 1976.

Mises, Ludwig von. Omnipotent Government. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1944.

Mussolini, Benito. Fascism: Doctrine and Institutions. Firenze: Vallecchi, 1935.

Mussolini, Benito. My Autobiography. New York: Scribner’s, 1928.

Pitigliani, Fauto. The Italian Corporative State. New York: Macmillan, 1934.

Powell, Jim. FDR’s Folly: How Roosevelt and His New Deal Prolonged the Great Depression. New York: Crown Forum, 2003.

Shirer, William L. The Rise and Fall of the Third Reich. New York: Simon and Schuster, 1960.

Twight, Charlotte. America’s Emerging Fascist Economy. New Rochelle, N.Y.: Arlington House, 1975.

Notas de rodapé

1. “Leis decretadas em outubro de 1937 simplesmente dissolviam todas as companhias com um capital abaixo de $40.000 e proibiam o estabelecimento de novas com capital inferior a $20.000” (Shirer 1959, p. 262).


Original em inglês disponível no endereço:
http://www.econlib.org/library/Enc/Fascism.html


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A economia socialista do fascismo italiano

Lawrence K. Samuels

A economia do fascismo italiano é frequentemente ignorada ou banalizada porque muito do que continha é encontrado em economias do mundo contemporâneo. Vejamos alguns componentes da economia fascista: planejamento central, pesados subsídios estatais, protecionismo (altas tarifas), aguda nacionalização, favorecimentos escancarados, enormes déficits, altos gastos governamentais, socorro financeiro a bancos e indústrias, burocracia em cima de burocracia, massivos programas de bem-estar social, endividamento nacional desenfreado, inflação galopante e “um arcabouço econômico nacional integrado, multiclasse e altamente regulado.”1

Benito Mussolini, em inúmeras ocasiões, identificou suas políticas econômicas com “capitalismo de Estado” – a mesma terminologia usada por Vladimir Lênin para introduzir a sua Nova Política Econômica. Lênin escreveu: “O capitalismo de Estado há de ser um passo a frente se comparado ao atual estado de coisas em nossa República Soviética.”2 Após o colapso da economia russa em 1921, Lênin admitiu privatizações e a existência de iniciativa privada, aceitou que pessoas comercializassem, comprassem e vendessem visando o lucro pessoal.3 Lênin estava caminhando em direção a uma economia mista. Ele mesmo exigiu que empresas estatais se pautassem por princípios de lucros e prejuízos.4 Lênin reconhecera que era preciso recuar do socialismo total e permitir algum capitalismo.

Mussolini seguiu o exemplo de Lênin e prosseguiu no caminho de estabelecer, na Itália, um modelo econômico baseado no dirigismo estatal. Na sua essência, o fascismo de Mussolini foi simplesmente uma imitação da “terceira via” de Lênin, que combinava mecanismos típicos de mercado com socialismo – semelhante ao “socialismo de mercado” da China Vermelha. Em suma, o marxismo revisto de Lênin culminou em políticas “socialistas brandas” que ajudaram a inspirar Mussolini na concepção do seu fascismo a la Itália, com uma guinada socialista à direita. Assim, pode-se dizer que as políticas de Lênin foram a primeira versão moderna do fascismo e do corporativismo estatal.

O economista Ludwig von Mises, fugitivo da conquista nazista da Europa, sustentava que “o programa econômico do fascismo italiano não diferia do programa do Socialismo Gremial Britânico como difundido pelos mais proeminentes socialistas britânicos e europeus.”5 6

Em The Concise Encyclopedia of Economics, Sheldon Richman expressa sucintamente: “Enquanto sistema econômico, o fascismo é socialismo com um verniz capitalista.”7 Enquanto o socialismo visa abolir o capitalismo abertamente, o fascismo dá-lhe a aparência de uma economia baseada no mercado, mesmo ela se pautando pesadamente pelo planejamento central de todas as atividades econômicas. De acordo com os autores Roland Sarti e Rosario Romeo, “Sob o fascismo o Estado teve mais liberdade para controlar a economia do que qualquer outra nação de seu tempo, exceto pela União Soviética.”8

Curiosamente, Mussolini achava muito das teorias econômicas de John Maynard Keynes consistentes com o fascismo, escrevendo: “O fascismo está inteiramente de acordo com o Sr. Maynard Keynes, apesar de sua proeminente posição como um liberal. Na verdade, o excelente livreto do Sr. Keynes, O Fim do Laissez-Faire (1926), talvez sirva, em grande medida, como uma introdução útil à economia fascista. Nele não há muito ao que se opor e muito há a aplaudir.”9

Depois da Grande Depressão mundial, Mussolini se tornou mais verboso nas suas reivindicações de que o fascismo rejeitou, explicitamente, os elementos capitalistas do individualismo econômico bem como do liberalismo laissez-faire. Em sua Doutrina do Fascismo, Mussolini escreve: “A concepção fascista da vida aceita o individual apenas quando segue os interesses que coincidem com os do Estado (…). O fascismo reafirma os direitos do Estado. Se o liberalismo clássico significa individualismo, o fascismo significa governo.” Em sua autobiografia de 1928, Mussolini deixa explícita a sua aversão ao capitalismo liberal: “Os cidadãos no Estado fascista não são mais indivíduos egoístas que têm o direito antissocial de rebelar-se contra qualquer lei da Coletividade.”

Na medida em que os efeitos da Grande Depressão persistiam, o governo da Itália promovia fusões e aquisições, socorria negócios a beira da falência e “confiscava as participações societárias de bancos, que detinham grandes participações.”12 O Estado italiano assumiu corporações em bancarrota, negócios cartelizados, aumentou gastos governamentais, expandiu a oferta monetária, fez crescer os déficits.13 O governo italiano promoveu a indústria pesada “nacionalizando-a em vez de deixá-la ir à bancarrota.”14

Os líderes fascistas viam as corporações italianas como “revolucionárias”, e alegavam que o Estado corporativo “garantiria o progresso econômico e a justiça social.”15 As teorias fascistas italianas do corporativismo surgiram do sindicalismo nacional e do sindicalismo revolucionário que frequentemente conciliavam as atividades dos sindicatos, guildas de ofício e sociedades profissionais. Mussolini reconhecia as raízes e influências socialistas do fascismo. Entre os que influenciaram o fascismo, conforme reconhecido por Mussolini, estão o marxista Georges Sorel e o pioneiro do sindicalismo revolucionário Hubert Lagardelle, ambos franceses.16 Aliás, Mussolini era adepto do sindicalismo: decretou obrigatória a organização de todos os trabalhadores italianos em sindicatos. É verdade que Mussolini proibiu greves, mas Lênin fez a mesmíssima coisa na União Soviética.

Sob o fascismo do Estado corporativo, “comitês de planejamento definiam as linhas de produtos, os níveis de produção, preços, salários, condições de trabalho, e o tamanho das firmas. Licenciamentos eram onipresentes; nenhuma atividade econômica podia ser realizada sem a permissão do governo.” Essas medidas restringiam a abertura de novos negócios bem como a expansão do que se tinha.17 18 Mais ainda: “os níveis de consumo eram ditados pelo Estado, e os rendimentos ‘excedentes’ tinham de ser renunciados na forma de impostos ou ‘empréstimos’.”19

Em meados da década de 1930, o estatismo corporativo e a concentração regulatória tinham feito com que o sistema de crédito italiano fosse colocado “sob o controle do Estado e de agências paraestatais” e, ao final da década, cerca de 80 por cento do crédito disponível era “controlado diretamente ou indiretamente pelo Estado.”20 Na medida em que a guerra com a Etiópia se aproximava, o governo da Itália impunha preços controlados, cotas de produção e tarifas mais altas. Um enorme déficit comercial se expandia, levando a mais restrições às importações, controles mais rígidos sobre divisas e maiores controles sobre a distribuição de matérias-primas.21 Enquanto Mussolini se movia em direção a “autarquia”, ou autossuficiência, e impunha leis mais protecionistas, a “elevação das despesas do governo e o déficit do orçamento aumentaram sete vezes entre 1934 e 1937.”22 23

Com a aprovação da Lei da Reforma Bancária, em 1936, o Banco da Itália e a maioria dos outros grandes bancos tornaram-se entidades governamentais.24 Um ano antes, o confisco de capitais tinha começado com decretos estatais que exigiam que todos os bancos, empresas e cidadãos privados entregassem suas ações e debêntures ao Banco da Itália.25

Mussolini dobrou o número de burocratas italianos sob uma gigantesca burocracia de comitês. Em 1934, a cada cinco italianos um trabalhava para o governo.26 Havia um labirinto “de burocracias que se sobrepunham e onde as ordens de Mussolini constantemente se perdiam ou eram propositadamente extraviadas.”27

Em maio de 1934, quando o Instituto para a Reconstrução Industrial (IRI) começou a assumir os ativos bancários, Mussolini declarou: “Três quartos da economia italiana, industrial e agrícola, estão nas mãos do Estado.”28 29 Em 1939, a Itália apresentava, no mundo fora da União Soviética, a mais alta taxa de empresas sob controle estatal.30 Naquele ano, o Estado “controlava mais de quatro quintos do transporte e da construção naval da Itália, três quartos da sua produção de ferro-gusa e cerca de metade da produção de aço.”31

Em setembro de 1943, Mussolini liderava a chamada República Social Italiana (RSI), um Estado fantoche da Alemanha nazista, e sugeria, como proposta adicional, a “socialização econômica”. Começava a demonstrar um interesse renovado em seu radicalismo anterior. Alegando jamais ter abandonado os seus ideais de esquerda32, “se voltava para um tipo de socialismo que, uma vez mais, atacava o capitalismo”, num esforço para “aniquilar as plutocracias parasitárias.”33 Em fevereiro de 1944, o governo de Mussolini delineava uma “lei de socialização”, que clamava por mais nacionalização da indústria e na qual os trabalhadores participariam na gestão de fábricas e empresas, bem como a reforma agrária.34 A República Social Italiana “enfatizava obsessivamente” compromissos com a socialização, com uma “variedade de igualitarismo fascista e um ampliado Estado de bem-estar social fascista.”35

Na sua essência, a economia da Itália fascista era marxista e de inspiração sindicalista – e muito mais de esquerda, socialista, do que as economias de muitos países ocidentais cuja economia é um misto de socialismo, welfarismo e proletarismo. Agora, cabe aos economistas e historiadores, ainda que tardiamente, reconhecerem esse fato.

Notas de rodapé

1. Stanley G. Payne, A History of Fascism 1914-1945, Madison: Wisconsin, University of Wisconsin Press, 1995 p. 7.

2. V. I. Lenin, “The Tax in Kind”, written April 21, 1921, Lenin’s Collected Works, 1st English Edition, Progress Publishers, Moscow, 1965, Volume 32, pages 329-365.

3. V. N. Bandera “New Economic Policy (NEP) as an Economic System”, The Journal of Political Economy, Vol. 71, No. 3 (June, 1963), 265-79: p. 268.

4. V. N. Bandera “New Economic Policy”, p. 268.

5. Sidney and Beatrice Webb, Constitutions for the Socialist Commonwealth of Great Britain, London: UK, London, New York, Longmans, Green & Co. 1920.

6. Ludwig von Mises, Planned Chaos, Foundation for Economic Education, Irvington-on-Hudson: NY, 1970, p. 73, first printing 1947.

7. Sheldon Richman, “Fascism”, in David R. Henderson, ed., The Concise Encyclopedia of Economics, 2nd ed., (Indianapolis, Indiana: Liberty Fund, 2008). Online at the Library of Economics and Liberty.

8. Franklin Hugh Adler, Italian Industrialists from Liberalism to Fascism: The Political Development of the Industrial Bourgeoisie, 1906-1934, New York: NY, Cambridge University Press, 1995, p 347; original source: Rosario Romeo, Breve Storia della grande industria in Italia 1861/1961, Bologna, 1975, pp.173-4; Roland Sarti, Fascism and the Industrial Leadership in Italy, 1919-40: A Study in the Expansion of Private Power Under Fascism, 1968, p. 214.

9. James Strachey Barnes, Universal Aspects of Fascism, Williams and Norgate, London: UK, 1929, pp. 113-114.

10. Gaetano Salvemini, Under the Axe of Fascism, London: UK, Victor Gollancz, LTD, 1936, p. 134.

11. Mussolini, My Autobiography, New York: NY, Charles Scribner’s Sons, 1928, p. 280.

12. Michael E. Newton, The Path to Tyranny: A History of Free Society’s Descent into Tyranny, 2nd edition, New York: NY, Routledge, 1994, p. 170.

13. Jeffrey Herbener, “The Vampire Economy: Italy, Germany, and US”, Mises Institute, October 13, 2005.

14. Newton, Path to Tyranny, p. 171.

15. Martin Blink Horn, Mussolini and Fascist Italy, 2nd edition, New York: NY, Routledge, 1994, p. 29.

16. Sternhell, Zeev, Neither Right nor Left: Fascist Ideology in France, English translation ed., Princeton: NJ: Princeton University Press, 1986, p. 203.

17. Richman, “Fascism”.

18. Gaetano Salvemini, Under the Axe of Fascism, London: UK, Victor Gollancz, LTD, 1936, p. 418.

19. Richman, “Fascism”.

20. A. James Gregor, Italian Fascism and Developmental Dictatorship, Princeton: NJ, Princeton University Press, 1979, p. 158.

21. Alexander J. De Grand, Italian Fascism: Its Origins & Development, Lincoln: NE, University of Nebraska Press, 1982, p. 106.

22. Michael E. Newton, The Path to Tyranny: A history of Free Society’s Descent into Tyanny, 2nd edition, New York: NY, Routledge, 1994, p. 173.

23. Alexander J. De Grand, Italian Fascism: Its Origins & Development, p. 108.

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25. Jeffrey Herbener, “The Vampire Economy: Italy, Germany, and the US”, Mises Institute, October 13, 2005.

26. George Seldes, “The Fascist Road to Ruin: Why Italy Plans the Rape of Ethiopia”, The American League Against War and Fascism, 1935.

27. Jim Powell, “The Economic Leadership Secrets of Benito Mussolini”, Forbes, Feb. 22, 2012.

28. Gianni Toniolo, editor, The Oxford Handbook of the Italian Economy Since Unification, Oxford: UK, Oxford University Press, 2013, p. 59; Mussolini’s speech on May 26, 1934.

29. Carl Schmidt, The Corporate State in Action, London: Victor Gollancz Ltd., 1939, pp. 153-76.

30. Patricia Knight, Mussolini and Fascism (Questions and Analysis in History), New York: Routledge, 2003, p. 65.

31. Martin Blink Horn, Mussolini and Fascist Italy, 2nd edition, New York: NY, Routledge, 1994, p. 35.

32. Denis Mack Smith, Mussolini: A Biography, New York: NY, Vintage Books, p. 31.

33. Stephen J. Lee, European Dictatorships 1918-1945, 3rd edition, New York: NY, Routledge, 2008, p. 17.

34. Stephen J. Lee, European Dictatorships, p. 171-172.

35. R.J.B. Bosworth, Mussolini’s Italy: Life Under the Fascist Dictatorship, 1915-1945, New York, NY, Penguin Press, 2006, p. 523)


Original em inglês disponível no endereço: http://www.econlib.org/library/Columns/y2015/Samuelsfascism.html


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